Estações da Alma: O Inverno.

Uma vez um amigo me disse que as flores de cores vívidas e aromas sublimes da primavera não duram para sempre. Que o sol do verão não brilha eternamente.  Não imaginava que suas palavras tão pessimistas faziam algum tipo de sentido além do material. Mas era óbvio que ele não estava falando das estações do ano. Falava das estações da alma. Pedi a ele que me explicasse melhor essa metáfora, ele olhou para mim com os olhos de menino e sorriu como um homem cansado. Nada disse quando seu sorriso tudo falou.   Continuar lendo

Buscas

Vivemos correndo em busca de certezas, de solidez. Essa busca incessante pela segurança parece está programada em nosso DNA. Todavia, prefiro crer que ela esteja impregnada em um lugar mais íntimo, em nossa alma. É ela quem anseia por um lugar seguro, livre das tormentas e das feridas. Acordamos para um mundo de dores, o abrir dos olhos não é tão doloroso quanto a tomada de consciência de onde estamos. Nele, sorrisos nem sempre são sinceros. Abraços não significam cumplicidade, juras não são sinônimos de verdades eternas. Continuar lendo

Brasas sob os pés

Trazemos em nós cargas de sentimentos que pesam nosso caminhar. É como se a cada passo dado por nós fosse feito sobre brasas. Nosso corpo não é imune a dor, ao sofrer, assim como nossa alma que não está imunizada contra a angústia. Dores lancinantes são causadas por essas brasas que ardem como o sol de verão.  Somos humanos, vez em quando aspiramos pela imortalidade, desejo contido de habitar o Olímpio. Desejo que se desfaz quando percebemos que os olimpianos são tão ou mais humanos que nós. Caminhamos e sentimos que cicatrizes ainda sangram. Almejamos uma cura que não existe. Não há antídoto para o que não queremos que sare. Palavras de auto-afirmação não afirmam nada se o peito não corrobora com seus significados. Continuar lendo

30 segundos

A Física nos mostrou que o tempo é relativo. Os poetas já tinham feito isso há quanto tempo? Deus sabe! Mas se olharmos com cuidado para a vida e seus ritos cotidianos, veremos que não precisávamos da Física e suas teorias para saber que o tempo é relativo. Tampouco necessitaríamos dos poemas para acreditarmos nisso. Logo, esse devaneio sobre o tempo que agora faço não passa de uma constatação óbvia. Convido você a olhar para um lugar que poucos conhecem: você. Olhemos para você e pensemos o seguinte: 30 segundos é relativamente pouco tempo, quase nada. Mas 30 segundos pode ser muito mais que meio minuto. Depende da carga de intensidade que você deposita nele. Continuar lendo

Um mundo só Nosso…

Há momentos em nossas vidas em que pensamos que não há mais lugar para nos escondermos, pois onde estamos já não é seguro, já não nos agrada mais. O mundo ao nosso redor  se tornou perigoso demais para nossa sobrevivência e principalmente para nossa estadia. Tão ou até  mais  doloroso quanto continuar a viver nesse mundo de todos é nos darmos conta de que ele já não é mais o mesmo, que a pureza e os sentimentos nobres não significam tanto quanto antes, e isso causa constantemente a sensação  de termos o céu desabando sobre nós e o chão já não está mais ali, com sua solidez. Continuar lendo

Chove lá fora

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Estava sentado no bar, o mesmo bar em que tomava a mesma bebida, todo o fim de tarde: minha cerveja não muito gelada. Sentado na mesma mesa, com o mesmo cenário a meu redor, mudava-se apenas os personagens. Cada um com seu drama, seus conflitos e desfechos. Pensei que seria tudo como o de costume e me enganei. Um rapaz sentado à minha direita falava ao celular. Sua voz melancólica combinava com o tom escuro de sua calça. Com a cabeça inclinada em direção ao forro daquela mesa azul ele falava com alguém – assim quero acreditar – Eu não pude evitar  e ouvi seu diálogo, ou seria um monólogo? Mas um monólogo também não é um diálogo? E mais profundo que os travados entre duas pessoas? Enfim, isso não cabe aqui, por hora. Transcrevo agora as frações do que ele dizia naquela tarde que findava pela última vez. Continuar lendo

O Passado: um morto teimoso

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O passado é um morto teimoso. Ele insiste em clamar por vida, e nós sopramos o fôlego da existência em suas narinas todas as vezes que fazemos dele presente.  Não devemos condenar a ânsia por vida desse defunto, não. Seria hipocrisia fazê-lo. Antes de tudo devemos admitir que gostamos dos mortos, evocamos seus rostos, redesenhamos suas faces em nossas mentes quando o vento da saudade bate em nossa pele. Cantamos suas canções quando o sono foge, recitamos os poemas que ele nos legou. Se o passado é teimoso e não aceita sua condição, como dizia o grande poeta, em muito temos parte nesse seu hábito impertinente. Continuar lendo

Borboletas no Jardim

Entrei no jardim de meu mundo a fim de colher as mais belas rosas que encontrasse,  rosas que estariam expostas na janela de minha casa. Contudo, quando caminhava em direção ao canteiro, algo chamou minha atenção: uma borboleta.  O bater de suas asas me convidou a admirar aquele instante. As horas passaram e ali estávamos: eu, a borboleta, o jardim e o tempo.

Pensar em um jardim florido é transportamo-nos para um lugar de tranqüilidade. É desejar calma, o que é compreensível nesse mundo de correrias. É almejar por uma companhia, uma vez que essa realidade separa-nos de quem amamos, queremos, enfim, desejamos. Em meio às flores, rosas e orquídeas estão detalhes que não são valorizados. É um beija-flor que se alimenta, uma lagarta que olha para o alto, vê as  pétalas e sonha.  Sonhar parece ser cada vez mais raro, os dias impõem sobre nós responsabilidades  que pesam, elas sobrecarregam nossos ombros a ponto de inclinarmos nossas cabeças e não mais olharmos para  o céu. Continuar lendo